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Turismo e legado olímpico: a importância de uma gestão pós-evento

A cada 4 anos (e nesta incrível ocasião 5), o mundo coloca seus holofotes no maior campeonato de esportes do mundo, os Jogos Olímpicos. Este megaevento, assim, é visto por muitos como uma grande jogada de marketing territorial que possibilita visibilidade para um país inteiro, tendo capacidade de mudar a maneira como a sede é vista pelo globo. Alguns claros exemplos, estão nos jogos deste século, onde em 2008, a partir de gastos exorbitantes, a China demonstrou seu novo papel na esfera geopolítica mundial, ou o Brasil em 2016, que buscou expor uma nova aparência, após o boom econômico na década anterior, além do caso do Japão, que após um longo período de estagnação econômica tenta trazer os olhos para o país.


Porém, em contrapartida, nesta última década cada vez menos países se candidatam para ser sede, com os jogos de 2024 e 2028 já tendo as suas sedes definidas, em Paris e Los Angeles, respectivamente, por falta de competição. Dessa forma, é necessário olhar para os últimos Jogos Olímpicos para compreender o porquê dessa nova onda de receio com relação às sedes.


Primeiramente, é importante se atentar a um padrão que se repete nos últimos Jogos: desde a edição de 1996, em Atlanta, todas as sedes ultrapassaram, em bilhões de dólares, o orçamento inicialmente previsto para a realização do evento. O caso do Rio 2016 é um exemplo nítido, que tinha como orçamento inicial $14 bilhões de dólares, mas que terminou com um gasto de 20 bilhões. Logo, o planejamento se demonstra constantemente falho, assustando as cidades com a possibilidade de ter que arcar com custos muito mais altos do que o esperado.


Outro ponto decisivo nesta nova tendência se refere ao endividamento gigantesco que as sedes encararam após os Jogos e o estado de abandono das instalações que foram construídas. Aqui, fica nítido uma parte do planejamento que é crucial para um bom aproveitamento de uma Olimpíada por parte das cidades, mas que costuma ser ignorado pelos organizadores: a gestão pós-evento.


A realização de um megaevento como os Jogos Olímpicos traz inúmeras mudanças para a cidade-sede. A construção de grandes instalações, o investimento em infraestrutura, a realocação de verbas e o aumento no turismo são alguns exemplos de consequências da realização de um megaevento, e todos esses impactam a cidade de alguma forma. Tendo isso em vista, cabe aos organizadores elaborarem um bom plano de gestão pós-evento para garantir que esse impacto seja positivo e os Jogos deixem um legado valioso.


O Rio de Janeiro foi um notório exemplo de falha (ou falta) de um plano pós-evento. O estado de abandono das instalações, que viraram “elefantes brancos”, o endividamento colossal dos cofres públicos, a gentrificação de algumas áreas da cidade, a precarização dos serviços essenciais e a queda do turismo nos anos seguintes escancaram essa situação.


As instalações, tanto esportivas, como arenas e alojamentos, quanto de infraestrutura, como o sistema BRT e o metrô, custaram aproximadamente 8,2 bilhões de dólares. Entretanto, após os Jogos, não foi realizado nenhum plano de uso adequado, e elas foram abandonadas (no caso das instalações esportivas) ou degradas e mal administradas (no caso de instalações de melhoria pública). Dessa forma, fica evidente que faltou uma estratégia para dar uma nova vida a essas obras bilionárias e tirar delas algum legado positivo. Ao invés de aproveitar os investimentos para melhorar a qualidade de vida dos residentes e dar melhores condições de treinos para os atletas, o governo ignorou as possibilidades que esse investimento gigantesco poderia trazer ao longo prazo, levando à transformação dessas instalações em elefantes brancos.


Essas obras gigantescas, além de mal utilizadas, também refletiram em imensos prejuízos financeiros e em transformações danosas ao espaço geográfico. Houve um grande descontentamento da população, à medida que muitos cidadãos foram realocados e desapropriados de suas terras para abrir espaço para as novas instalações olímpicas, além da gentrificação e especulação imobiliária consequente da nova organização territorial da cidade, que acentuou o processo de marginalização da população mais pobre.


Outra fatia do descontentamento foi decorrente dos altos gastos, que culminaram em um endividamento dos cofres públicos da cidade, concluindo em uma piora nos serviços públicos essenciais, como a saúde. Sendo tal situação preocupante, quando considerado casos similares, como o de Montreal em 1976, que após sediarem os jogos ficaram endividados pelos próximos 30 anos. Em adesão, sobre a perspectiva de outros jogos, percebe-se que não é incomum uma oposição, tendo nenhum caso melhor que os dos Jogos deste ano, que atingiram um índice de descontentamento na realização de 80%.


Além disso, é necessário considerar o quanto realmente a perspectiva do mundo sobre o Brasil mudou após o evento. À vista disso, os índices de turismo surgem como uma boa métrica para análise. A partir do estudo dos números dos setores de turismo, foi possível observar que, apesar de um sucesso no período das Olimpíadas, tendo altas no mês de agosto de 2016, os números voltaram ao normal nos anos subsequentes aos Jogos. Logo, é mais uma vez claro que o período pós-evento não foi levado em consideração durante o planejamento. A estratégia de marketing e melhoria da imagem da cidade foi pensada apenas para o decorrer dos Jogos, o que gerou um bom resultado nesse período, mas faltou um planejamento a longo prazo. Com um plano de gestão pós-evento eficiente, a cidade poderia ter lucrado muito mais com o turismo e diminuído os rombos financeiros, mas essa oportunidade de criar um legado positivo no setor turístico não foi aproveitada.


Fugindo da análise dos Jogos de 2016, devemos considerar os alarmes que os Jogos de Tóquio trazem para qualquer cidade com intenção de se candidatar para sede. Primeiro, percebemos que o evento é altamente volátil e inflexível, evidenciado pelas consequências da epidemia do coronavírus. Além disso, os custos para a realização deste megaevento estão cada vez mais altos, chegando a ser comparáveis, de acordo com um recente estudo da Universidade de Oxford, a custos com desastres naturais, guerras e pandemias. Por último, considerando que, apesar de gastos gigantescos para ser declarado como um patrocinador oficial dos jogos, diversas empresas desativaram qualquer jogada de marketing, buscando distanciamento dos Jogos. Assim, deve-se temer como será a relação entre patrocinadores e os anéis na próxima edição, uma vez que se tem observado uma nova preferência, por parte dos patrocinadores, de parcerias com atletas e federações em contrapartida ao do evento.


Finalmente, a partir da dissecação das falhas presentes no maior evento esportivo mundial, é conclusivo a necessidade de uma mudança por parte do COI na estruturação dos Jogos Olímpicos, uma vez que o evento não entrega mais os resultados esperados pelas cidades e suas populações, e se torna ultrapassado. Os Jogos precisam de mudanças, pois de evento a evento que passa, o seu valor imensurável se torna mais caro.

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